quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Relato de mãe: Alergia Alimentar

Ana-Lorenzo 01

Toda mãe de primeira viagem tem muitas dúvidas e lógico sempre tem amigos e familiares ajudando, opinando e nos orientando sobre o que é normal que o bebê apresente.

O Lorenzo nasceu com exatas 36 semanas e 1 dia, um pouco apressadinho, ficou uma semana na UTI neonatal devido a um pequeno probleminha para respirar, mas que passou rápido e pudemos trazer o pequeno para casa.

Quando no hospital, eu ficava com ele das 6h às 22h para amamentar, porém nada era suficiente e este pequeno chorava muito e tão logo descobrimos que era de fomeeee... Depois de uma conversa com a pediatra da UTI ela disse que ele precisava do chamado “complemento”, sugeriu que a partir daquele momento eu amamentasse e na sequência oferecesse 40ml de leite artificial e o que parecia obvio se confirmou, o pequeno ficou mais calmo e antes de sair da maternidade esse volume foi aumentado para 60ml associado à amamentação.

Ao chegar em casa comecei a perceber que sempre que mamava ficava desconfortável, meio gemente e se movimentando muito, tentando jogar o corpinho para trás, soluçava muito e parecia um “soluço molhado”, parecia que algo voltava e não saía, pois poucas vezes ele vomitava, algo estranho estava acontecendo.

Todos diziam que era assim mesmo, que talvez fosse refluxo, todo bebê tem isso, fica desconfortável enquanto não arrota, enfim... A pediatra sugeriu então que usássemos uma fórmula anti-refluxo.

O tempo foi passando e eu percebia que o Lorenzo não melhorava, chegava a ficar uns 40 minutos neste desconforto após todas as mamadas. Aos 2 meses começou a ter engasgos fáceis, e no primeiro engasgo mais longo o levamos rapidamente para o hospital. Chegando lá o pediatra examinou e disse que provavelmente era só um refluxo normal e pediu que conversássemos com a pediatra que o acompanhava.

Conversamos com a pediatra e ela pensou em alergia alimentar, sugeriu que oferecêssemos um leite com proteínas quebradas para facilitar a digestão. Iniciamos o tal leite e não tínhamos melhora do desconforto e agora associado aos engasgos que me deixavam desesperada, chegamos a passar umas 6 horas no consultório da pediatra oferecendo a mamadeira e ela observando o pequeno.

Próximo de 2 meses e meio, amamentei, ofereci o leite e, após 3 horas, fui dar banho no pequeno. Durante o banho, mesmo semi sentado, ele teve um engasgo absurdo, ficou roxinho e ficamos desesperados. Fomos correndo para o hospital, e no caminho ele já foi melhorando. Ao chegar la fomos prontamente atendidos e o médico resolveu interná-lo para melhor investigação.

Durante a longa estadia de 7 dias foram feitos vários exames incluindo o Esôfago-Estômago-Duodeno (EED), e descobrimos então que o pequeno tinha alergia a proteína da vaca, com dificuldade de digerir tal proteína associada e uma discreta alteração anatômica no Ângulo de His.

Ao longo da internação fiquei sem amamentar e foi introduzido um leite que não possui proteínas e sim aminoácidos livres, facilitando a digestão. Mesmo seguindo todas as orientações para retirada do leite diariamente, infelizmente o meu leite secou durante a internação.

Após a saída do hospital a orientação que tivemos era oferecer o leite com espessante a cada 2 horas, pois com intervalos menores poderíamos oferecer um volume menor, ficar com o bebê em pé no colo por no mínimo 30 minutos e deixa-lo dormir com a cabeceira a 45°. Esta orientação se manteve até mais ou menos 8 meses.

As noites eram muito difíceis, pois associando a oferta do leite a cada 2 horas com o intervalo que tinha que ficar com ele no colo, tinha pouco mais de 1 hora para descansar e qualquer tosse ou ruído já era alarmante.O que nos fortalecia era olhar para o rostinho dele e ver que todos aqueles sintomas estavam sob controle, digo sempre no plural, pois a ajuda e apoio do meu marido foi essencial para que obtivéssemos sucesso.

O leite não alergênico com aminoácidos livres é extremamente caro, visto que no início usamos aproximadamente 1 lata a cada 2 dias, porém é fornecido pelo SUS mediante preenchimento de relatórios pelo médico e comprovação através de exames clínicos e laboratoriais.

Os alimentos foram introduzidos isoladamente nas sopinhas, oferecíamos por 3 dias a sopa com um único legume e algum tipo de proteína para avaliar se tinha piora ou não dos sintomas e aos poucos começamos a juntar os legumes e Graças a Deus ele não apresentou alergia a outros alimentos.

Aos 8 meses voltei a trabalhar e o pequeno entrou no berçário, fiquei bastante preocupada e na semana de adaptação eu chorava o tempo todo, com certeza a minha adaptação foi mais difícil do que a dele, mas a escola é excelente e foram muito acolhedores. Conversei com a coordenadora pedagógica sobre toda a nossa história e ela me deu uma lista para assinalar tudo e que ele podia receber e pediu que sinalizasse o que não podia.

Ele recebia as mamadeiras e fazia as refeições no bebê conforto e ficava lá por 30 minutos após se alimentar, além disso, levei para a escola um anti-refluxo duplo para colocar embaixo do colchão do berço para que ficasse inclinado.

Além de todas as orientações, fiz um bilhete com letras gigantes e coloquei na repartição transparente que fica na primeira página da agenda, orientando sobre mantê-lo elevado e não oferecer nada que contenha leite. Todos os dias enviava o leite já com as medidas separadas junto com o espessante e a cada 10 dias mais ou menos escrevia “só para relembrar” e alertava sobre o que deveriam fazer.

Depois que ele fez 1 aninho, começamos a diminuir a dose do espessante e mais ou menos com 1 ano e 3 meses conseguimos excluí-lo totalmente. Lorenzo fazia também um tratamento medicamentoso contínuo até mais ou menos 1 ano, e tentávamos tirar a medicação mas sempre voltávamos devido aos sintomas.

Ana-Lorenzo

Hoje o pequeno esta com 1 ano e 9 meses, continuamos com o leite de aminoácidos livres sem espessante e já introduzimos alimentos com traços de leite, porém nos testes que fizemos com alimentos que possuem leite, não obtivemos sucesso, ele ainda tem bastante desconforto e chora muito.

Aos 2 anos faremos a nossa próxima consulta com o gastro-pediatra e receberemos uma nova lista de introdução de alimentos, pois a orientação que nos passou é que alergia alimentar se cura com dessensibilização mas tem que ser com orientação médica de acordo com a tolerância da criança e tratamento dos sintomas quando mais intensos.

Queridas mamães prestem muita atenção nos pequenos, pois nem sempre aquilo que dizem ser normal realmente é... Alergia alimentar pode se manifestar como um refluxo exacerbado e isso causa enorme desconforto. Na dúvida, sempre investiguem, questionem, duvidem e se informem.

Ana

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