terça-feira, 12 de agosto de 2014

Quando nem tudo sai como planejado - depoimento de uma mãe

Gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência e das dificuldades enfrentadas desde o nascimento de minha pequena, hoje com um ano e três meses. Quase tudo o que vivi fugiu muito do considerado "ideal" ou do "padrão", mas apesar de tudo posso dizer que hoje minha filha é uma menina forte, cheia de pique e de saúde, com desenvolvimento, estatura e peso dentro da normalidade, e que nós, mães, acabamos dando um jeito mesmo quando as coisas parecem começar a sair dos eixos. É uma mistura de instinto, dedicação e amor extremos, que nos fazem lutar e superar as dificuldades em nome dos nossos anjinhos, tão frágeis e dependentes de nossos cuidados.

Tive uma gestação extremamente tranquila! Apesar de ser bem gordinha (próxima dos 3 dígitos, manequim 50/52) e ter ficado muito preocupada que isso pudesse trazer transtornos, posso afirmar que durante a gestação toda nem parecia que estava gravida, só percebia por causa dos chutes e do tamanho da barriga, risos. Cuidei direitinho da alimentação, engordei apenas 7 quilos e minha bebê nasceu linda e maravilhosa na 40a semana por cesariana, com 48cm e 3.245kg! Ebaaa! Lindo e maravilhoso! Nem tanto.

baby 1 Fonte: Acervo Pessoal.

Desde o início, tive muita dificuldade com a amamentação (jamais achei que teria, pois tinha um "porte" bem avantajado, risos), mas minha filha perdeu quase 15% do peso nos primeiros dias de nascimento, ultrapassando o que os pediatras consideravam " aceitável", motivo pelo qual muito precocemente foi necessária a introdução de complemento (NAN).

A minha filha chorava quase o dia todo, e ouvir da pediatra a frase "sua filha chora de fome!!" foi como uma punhalada para mim, que a desejei tanto e queria tanto amamentar. Cheguei a usar medicamentos como o hormônio ocitocina e Equilid, sem sucesso. Ela tinha uma pega boa no seio, e até me machucava de tanta força que sugava... Mas o leite, inexplicavelmente, não descia em volume suficiente.

Baby 2 Fonte: Acervo Pessoal.

Em paralelo, descobrimos que ela sofria do tão temido refluxo (no caso dela era refluxo oculto, ou seja, ela não vomitava mas o leite subia e descia e machucava o esôfago), além de muitas cólicas. Isso gerou tremenda dificuldade com a alimentação dela, e eu acabei desistindo depois que tive uma séria infecção e precisei usar antibióticos. Eu ordenhava e jogava fora, para o pouco leite que eu tinha não secar, mas a verdade é que talvez não tenha tido um bom aconselhamento na época pra continuar tentando, e perto dos 3 meses o aleitamento materno cessou.

Baby 3 Fonte: Acervo Pessoal.

Mesmo com o leite artificial, ela nunca foi uma boa mamadora, tomava uns golinhos e logo virava o rosto. Nisso testamos vários leites, várias mamadeiras e ela sempre tendendo a ser uma bebê de baixo peso. Oferecia praticamente de hora em hora. Seguindo conselho da pediatra, fiz o teste de "deixar passar fome" pra ver se ela iria tomar com vontade, mas depois de 16h de jejum, adivinhem? Tomou 30 ml e rejeitou. Foi então que a pediatra disse foi: "é, você vai ter que ter paciência e dar um jeito". Bom, né? Tudo que uma mãe de primeira viagem, que nunca cuidou de primos ou sobrinhos precisava ouvir!
Me sentia um lixo de mãe por não conseguir suprir minha filha com todos os anticorpos e nutrientes de que precisava, entrei em uma séria depressão e a alimentação dela passou a ser uma neura pra mim.

Para piorar as coisas, aos 5 meses, ainda com refluxo, mesmo com medicação receitada pelo gastropediatra dela, ela resolveu rejeitar de vez a mamadeira, e me vi alimentando a minha bebê de colherinha, de ml em ml. Muito sofrimento!

Baby 4 Fonte: Acervo Pessoal.

Com 6 meses a pequena foi pra escolinha, mas como podem imaginar, a alimentação dela era terrível e ela logo perdeu peso e atingiu o percentil 10 (isto é, em cada 100 crianças da mesma idade, 90 pesavam mais que ela), então tirei férias por um mês, meu marido tirou na sequência e depois disso ela acabou não voltando mais para a escola (nesse ponto acho que vocês imaginam como estava minha depressão e ansiedade...

Com a introdução das papinhas de fruta e papinhas salgadas ( por volta dos 6 meses) a coisa foi melhorando um pouco, e descobrimos que ela, além do refluxo, (pasmem) simplesmente não gostava (e ainda não gosta) do sabor do leite! Continuávamos a tentar várias marcas, e até hoje o único que tem uma aceitação mínima é o tipo A de garrafa. Iogurte? Danoninho? Danete? Leite com fruta? Ela simplesmente recusava tudo!! Chegamos a pensar em alergia à proteína do leite de vaca, intolerância à lactose, tudo descartado.

Baby 5 Fonte: Acervo Pessoal.

E assim minha casa virou um laboratório para testar mil e uma combinações para tornar o leite sem gosto de leite, risos.

Com o tempo, notamos que ela tem uma preferência por alimentos salgados (diferentemente da maioria de nós), e desde a primeira papinha de legumes,ela comeu vorazmente. Comecei então a acrescentar leite nos purezinhos salgados que ela comia, colocar requeijão depois dos 9 meses no sopão dela, para assim minimizar o problema que a carência de cálcio poderia trazer.

Baby 6 Fonte: Acervo Pessoal.

Hoje posso dizer que conseguimos vencer a fase mais crítica em relação à não aceitação do leite na dieta. No decorrer das semanas, consegui introduzir alguns mingaus (salgadinhos, tipo molho branco), ou leeeeeeeevemente doces e com baunilha, (mas sem nada de Chocolate, ou daquele pó com sabor morango, ou daqueles mingaus de caixinha), pra camuflar o sabor. Nesse processo cheguei até a colocar uns grãozinhos de café solúvel no mingau, e ela adorou. A pediatra, a cada visita, me dizia: "não é o ideal, mas em certos casos precisamos esquecer o ideal e fazer o viável, e se esse é o jeito que ela aceita o leite, que assim seja, pois até os 2 anos sem leite ela não pode ficar". E assim ela foi, aos trancos e barrancos, timidamente, crescendo e recuperando o peso.

Hoje tenho certeza que se não fosse minha dedicação 24h por dia, ela não teria voltado ao percentil 50 em peso e altura (hoje está com aprox. 80 cm e 10.500kg).

Ela continua usando os remédios para refluxo, e sua alimentação hoje, depois de muito esforço, é composta por: 3 refeições com cerca de 200ml de leite "disfarçado", com muito papo e paciência, 2 refeições "frutais" (suco, fruta raspada ou vitamina), e 2 refeições salgadas.

É uma menina atenta, amável, espertíssima, carismática, doce, que dorme muito bem, interage bastante com adultos e crianças, dança, faz caras e bocas e é a alegria da família. Graças a Deus.

Baby 7

Sabe porque resolvi contar tudo isso? Para dizer que muita gente, seja da família ou não, sempre comenta MIL coisas, comparando seu filho com outros bebês, em todos os aspectos ( peso, altura, desenvolvimento no geral), o tempo todo, criticam, implicam, mas na hora H, de receber uma sugestão, uma solução, uma colaboração, pouquíssima é a ajuda real, e é preciso muita paciência, criatividade, amor e dedicação para que as coisas não saiam do controle. Se você tem um bebê padrão, ótimo!!! Mas digo às mães que vivem situações atípicas como eu: para tudo dá-se um jeito! E não liguem para críticas ou comparações maldosas, pois cada bebê é único!

Como disse em uma outra ocasião para as meninas, é por este motivo também que acho esse blog muito legal! Blogs como este podem auxiliar muitas mães, não por fornecer um "protocolo" do que é certo ou errado, mas por mostrar a experiência de diferentes mães que tiveram histórias bem diferentes (desde o tipo de parto até a questão da amamentação, por exemplo), demonstrando que há diferentes formas de "fazer certo" e de criar nossos bebês saudáveis e felizes.

Gostaria de fazer um apelo a todas as futuras mamães e mamães recentes, pois este foi um grande erro meu (que não cometerei com meu próximo baby, que está a caminho): nunca desistam da amamentação, por menos leite que tenham e por mais que o bebê ache a mamadeira de complemento bem mais "fácil". Sei lá, no meu íntimo acho que se eu tivesse insistido mais, as coisas teriam sido mais fáceis, a repulsa pelo leite provavelmente não seria tão grande (já que amamentar é muito mais do que alimentar e ela acabaria mamando mais pelo aconchego do que pela apreciação do sabor do leite).
Infelizmente não posso voltar atrás e tenho, dia após dia, feito o meu máximo. E fico muito feliz com a oportunidade de escrever este post, compartilhando minha experiência com mães que podem estar vivendo algo semelhante e podem pensar melhor sobre como vencer desafios como estes.

Por fim: acreditem na capacidade e no instinto de vocês pois, por mais que sempre muita gente fale muita coisa, ninguém no mundo fará melhor do que você!

Beijos a todos!
C. M.

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